segunda-feira, 6 de junho de 2011

A CORDA E AS CORDAS

Recebi a notícia de que o poeta e repentista Chico Mota tinha falecido. Morte natural? Natural! Mas, não fora causa normal sua despedida do mundo terreno. Seu Chico Mota se suicidara... Usara uma corda como meio de transporte para outra dimensão. Seu Chico, que a vida toda estivera acariciando as cordas de sua viola para que os sons mais suaves adentrassem nossos ouvidos, nas manhãs de todos os dias na Emissora de Educação Rural de Caicó, colocara uma corda no pescoço!

Seu Chico Mota, autor da teoria da correspondência trionívoca (a cada toque nas cordas da viola, um toque de sua voz e um toque em nossos corações), calara-se sufocado por apenas uma corda! Corda de dor... Corda matadora de sonhos... Corda eliminadora de sons... Corda de um som triste...

Enquanto Seu Chico Mota estivera manuseando as cordas de sua viola, sua vida fora poesia! Sua arte nos fora alegria! Fora-nos rebuliço de sentimentos! Fora nossa refeição primeira do dia durante muitos anos! Mas, Seu Chico Mota deixara o plural... Seu Chico Mota cansara das “DEZ CORDAS DE SUA VIOLA” e optara por somente uma corda. A corda grave! A corda não paralela! A corda perpendicular! A corda envolta do pescoço! A corda que substituíra suas cordas vocais! A corda que eliminara o contato das cordas com seus dedos!

Não sei... Talvez Seu Chico Mota tenha se cansado de afinar as cordas de sua viola. E tenha, como último gesto, fiel ao seu contato com as cordas, encontrar-se com Deus. Ele que é o maior afinador de cordas!

Gilberto Costa 

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